terça-feira, 23 de março de 2010

Curiosas reminiscências

A maior prerrogativa de ter vivido uma infância em um lugar pequeno e esquecido do resto do mundo, para mim não foi somente o fato de poder gozar de toda segurança e liberdade que uma infância interiorana pode proporcionar. Fato que não deixa de ser maravilhoso também. Mas, uma das coisas mais deliciosas pra mim, foi ter a chance de crescer ouvindo as tantas histórias que um povo simples tem pra contar, repletas de crenças insólitas, adornada por uma imaginação febril, mas cuja veracidade seria um insulto duvidar.
Ouvia com o coração disparado as histórias daquela gente do interior, entretanto, minha curiosidade sempre me obrigava a chegar até o final, além de pedir por mais e mais detalhes sempre, amedrontada e fascinada ao mesmo tempo. Um fascínio que mesmo hoje não posso esquecer.
Por coincidência ou por pura razão, os relatos de acontecimentos fantásticos, em sua maioria arrepiantes, tinham ocorrência apenas naqueles quarenta dias que a igreja católica chama de quaresma. Alertados do fato, temíamos esses dias mais que tudo. Eu ainda mais por que era pagã e todos diziam que os pagãos eram o prato preferido das criaturas que tanto davam por falar naquelas épocas. O que o medo e uma imaginação hiper-fértil não faz com uma criança? Por conta disso, abria mão da diversão que me aguardava naquelas noites de verão, para ficar em casa, acreditando-me somente segura abaixo do teto do meu lar.
Hoje eu e minha irmã, companheira minha desse drama infantil, percebemos que aqueles sussurros, muitas vezes distorcidos que chegavam até nós, aqueles relatos, jurados de pé junto que eram verdadeiros, as tantas histórias tão mirabolantes que colecionamos na memória, poderiam virar contos, contos que de agora por diante enfeitarão as paginas deste blog.