A rua onde moravámos era cortada por outra, formando uma espécie de cruz torta. E essa cruz se localizava a mais ou menos sessenta metros de nossa casa. Exatamente nessa esquina ocorreu um acidente com uma vítima, uma moça feirante que caiu de cima de um caminhão pau-de-arara e quebrou o pescoço, vindo a falecer no local. O episódio não teria passado de uma triste tragédia se algum tempo depois ele não viesse a tona com direito a pavorosas passagens macabras.
Tudo começou na quaresma do ano seguinte, quando alguns vizinhos começaram a narrar que estavam acontecendo coisas estranhas naquele local. As histórias se espalharam e ganharam cada vez mais ênfase, apavorando adultos e crianças da região. Todos ficaram tão assustados que mudaram totalmente seus hábitos de vida. Estudantes passaram a sairem da escola direto pra casa, nada de ficarem até a meia noite na rua com os amigos, os moradores de lá pararam de ficar na porta até mais tarde e as crianças corriam para as camas dos pais apavorados.
Um desses relatos foi o de uma vizinha que disse estar esperando o marido chegar de viagem, muito preocupada com a demora. Então resolveu esperá-lo no portão, quando viu uma luz naquela direção que lhe chamou a atenção, ela olhou curiosa e viu uma mulher vestida de branco, vindo em sua direção pedindo ajuda, ela parecia sofrer e soltava gemidos de dor. A senhora ficou apavorada e entrou em casa fechando a porta atrás de si, tremendo de medo, mal teve pernas pra correr para a cama e se esconder debaixo das cobertas.
Outro desses relatos e o mais frequente também foi o de passantes "corajosos" que se aventuravam nas ruas até mais tarde acreditando que as histórias não passavam de balela: Eles viram uma mulher vestida em uma mortalha branca andando de quatro no asfalto com a cabeça torta e soltando gemidos horripilantes. Ela fazia o mesmo trajeto toda meia-noite em um ponto específico até sumir mais adiante, isso aconteceu durante as qurenta noites da quaresma pra quem quisesse ver e tivesse coragem, claro.
Muitos foram desafiados a comprovar a veracidade da narração, e muitos desafiaram.
Eu por minha vez não me atrevi a descrença, para o meu próprio bem.
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